Por que jogar o Modo Livre? Com Gabriel “MadScientist” Dias

“Um novo modo de jogar”, foi com esse título que a Blizzard anunciou, em Fevereiro de 2016, o Modo Livre, com o objetivo de manter o Modo Padrão renovado e acessível enquanto preserva tudo o que já conhecemos e adoramos em Hearthstone.

Abraçado por alguns jogadores, que logo migraram para o modo, seja pelo novo desafio ou pela nostalgia, o modo livre vem gradualmente ganhando novos adeptos, mas grande parte da comunidade ainda tem grande relutância a ele. 

Para falar melhor sobre o Livre, convidamos Gabriel Dias, conhecido na comunidade como ‘Mad Scientist’ (ou GodNiss dentro do jogo). Ele é redator do Card na Manga, administrador e analista de meta da Naxxramas Invaders, streamer e administrador da Hearthstone Selvagem: Modo Livre, o maior grupo brasileiro focado no Modo Livre.

MdE: O que te levou a gostar tanto do modo livre?

Gabriel Dias: Antes eu jogava Magic, e cheguei até a jogar o formato padrão de lá competitivamente na minha cidade. Conforme eu ia comprando as cartas eu me sentia fazendo um mal negócio. O nível de poder do formato era bem inferior e todo ano tinha rotação, então eu sempre tinha que mexer nos meus decks (e as vezes até piora-los/deixar de jogar com arquétipos que eu curtia) pra poder continuar competindo.

Por esse motivo, quando a notícia de dois formatos/rotação chegou ao Hearthstone, eu não me questionei nem por um segundo sobre qual eu queria jogar. No Magic um grande problema que eu encontrei de migrar pro Padrão pro modern/legacy é que os decks são muito caros passando facilmente de mil reais, e como eu jogava Magic quando era novo eu não tinha nem perto desse dinheiro pra comprar cartas. Como eu jogava Hearthstone desde o beta, eu tinha uma coleção bem consistente e eu não ia abrir mão dela para jogar num formato que eu achava menos divertido. Então, resumindo, eu sabia que eu queria jogar no formato livre desde a divisão e já sabia que gostava de formatos eternos, pois adoro as possibilidades diversas que eles propõem e a quantidade de decks que o meta deles costuma ter.

MdE: O que um jogador novo precisa saber para adentrar o modo?

Gabriel Dias: Acho que existem várias dicas que eu posso dar, mas as principais são:

  1. Existem muitos tabus referentes ao formato, como por exemplo ele ser mais caro que o formato padrão. Claramente existem decks muito caros no formato livre, já que ele tem todos os cards do jogo, mas ele não é mais caro. Diferente do padrão, existem decks baratos que não são budget, decks do meta, mas são extremamente fortes, e que custam menos de cinco mil de pó arcano. Os decks do livre duram pra sempre (no mínimo a base deles), então quando você gasta pó em um deck livre você pode se sentir seguro. Além disso, muitos decks utilizam as mesmas cartas, mesmo tendo planos de jogo completamente diferentes. Essas Staples (como Zilliax, Repugnaz, Rato Sujo, Necrolorde) ajudam a baratear bastante o custo de decks futuros, já que se você a criou para o deck X, e já vai te-la quando for montar o deck Y.
  2. Existem decks específicos que a galera mais experiente do formato costuma recomendar para a galera iniciante: decks como Caçador Mecanoide, Paladino Impar, Ladino Impar, Mago Exodia, Guerreiro Impar, Xamã Murloc, Druida Jade, etc. Alguns desses decks são bem baratos, outros um pouco mais caros, porém usam muitas staples presentes em outras listas. Todos tem uma jogabilidade bem comum e divertida, fácil de aprender e se aperfeiçoar então com essas listas você acaba conseguindo de adaptar ao meta do livre mais rapidamente.
  3. A Blizzard atualmente não dá tanta atenção em relação a balanceamento (vide o Big Priest estando desbalanceado a mais de um ano), porém, quando algo está opressivo no formato eles mexem (como foi com a Naga e com o Druida 777). Então outro tabu importante de quebrar é esse do livre ser terra de ninguém. Existe um meta, existem decks fortes e decks memes, então não espere encontrar os decks meme nos ranques mais altos, não espere que o livre é só pra jogar de brincadeira, já que tem as pessoas buscam jogar com o mais forte, chegar nos ranques mais altos. Não é uma terra de ninguém, é a sobrevivência do mais forte. Os melhores decks destroem os mais frágeis, e se situam como o topo do meta, e a variedade permite que várias outras listas surjam para tentar parar as mais populares. Com isso os decks mais jogados vão variando bastante, não se engane achando que isso é completamente aleatório, além de muito bem definido o meta no livre é amplo e isso nem de longe significa “sem lei”.
  4. Mesmo existindo partidas com complexidades muito altas, muito difíceis de se jogar e que necessitam de um conhecimento e habilidade alta, existem também partidas que acabam da maneira mais simples possível. Além desses temos decks extremamente explosivos, combos OTK, temos também combos highroll bem consistentes. Então não desanime, caso você perca uma partida de uma forma dessas, como qualquer formato o livre tem partidas decididas como se fosse um cara ou coroa, é muito raro por exemplo um Odd Rogue vencer um Odd Warrior ou um Odd Warrior vencer um Exodia Mage, mas não é impossível.
  5. Acho que a última dica importante é NÃO DESENCANTAR. Muitas pessoas cometem o erro de destruir diversos cards pra montar um deck e depois se arrependem. m um formato onde a construção de uma coleção é necessária para se divertir, você não pode ir abrindo mão de cards assim, mesmo que eles pareçam bem fracos. Qualquer card no livre pode começar a ver jogo do nada, com uma nova expansão, arquétipos novos surgem e arquétipos antigos voltam, não desfaça seus cards. Se você não gasta dinheiro no jogo, compre pacotes com gold e busque com isso consegui-los. Claro que muitas vezes no início é difícil, e você vai acabar tendo que desencantar algo para conseguir ter decks legais, então, antes de fazer besteira, procure a ajuda de outros jogadores do formato para ter uma noção de se vale a pena ou não desfazer os cards X. Um lugar bom para encontrar jogadores do formato que estão dispostos a ajudar são as comunidades BR como por exemplo o grupo HS Selvagem: Modo Livre no Facebook. Se você tem dúvidas sobre o formato/sobres crafts/sobre o que ta forte, chega lá que a galera vai estar mais que disposta a ajudar. 

MdE: Você acredita que a mecânica de Par e Ímpar é prejudicial?

Gabriel Dias: Eu não concordo que ela seja prejudicial na atualidade mas no mínimo ela é perigosa. Acho uma mecânica muito interessante, eu pessoalmente sou muito fã de restrições de montagem de deck que te dão algum bônus, então eu gostei do impacto que elas tiveram no jogo.

No padrão, infelizmente, foi impactante demais, já que o nível de poder não deveria ser tão alto por lá. Mas no livre, por enquanto, acho que ambos os cards estão ok. Mesmo sendo fortes e possuindo diversos decks par e ímpar no topo do meta existem decks das mesmas classes que não usam a estratégia e também são fortes.

O meta tem que ser diverso, cards fortes tem que existir. No momento Baku e Genn são lendárias muito importantes para a construção do meta, mas ao mesmo tempo são balanceadas de acordo com o poder do resto dele, futuramente elas podem vir a ser um grande problema.

MdE: Apesar do número elevado de cards disponíveis no Modo Livre, você acredita que formar um deck e aprender o jogo vale mais a pena do que no padrão?

Gabriel Dias: Com certeza, em formatos eternos você costuma ter uma variedade grande isso é comum, mas você também tem uma resiliência enorme. Os decks costumam se manter/se adaptar então, se você crafta um deck, você sabe que a base dele vai se manter no jogo. Se você aprende/gosta de jogar com uma lista, você sabe que vai valer a pena jogar cada vez mais com ela. 

O meta no livre ser mais complexo que o do não torna tão mais difícil. Você obviamente vai precisar pensar em mais cards e mais estratégias quando não souber o que você está enfrentando, mas os cards antigos poderosos não mudam. Com o tempo você começa a conhecer bem os decks do meta e saber exatamente que tipo de jogadas esperar de cada adversário. Você também pode jogar com muitas listas diferentes e se beneficiar desse fator surpresa, a diversidade torna o formato mais divertido e emocionante.

Conhecendo o básico do jogo e do meta você consegue jogar em volta de tudo, mas mesmo assim pode ser pego desprevenido por uma nova lista ou algum deck que você não conhecia. Isso com certeza dá uma emoção a mais para as partidas mas é relativamente raro em ranques mais altos.

Mesmo com esse fator de possível imprevisibilidade que eu mencionei anteriormente, não muda o fato de como funciona qualquer cardgame. Decks muito fortes são conhecidos, então se você busca subir de ranque rapidamente e alcançar o lenda você obviamente irá enfrentar os decks mais populares em maior quantidade. Sabendo disso você pode simplesmente jogar com uma lista que você se sente confortável, e conhecendo os decks mais populares do meta e como eles funcionam, ter bons resultados.

MdE: Qual o impacto das novas expansões no Modo Livre?

Gabriel Dias: O impacto é misto, depende demais das mecânicas novas apresentadas, das mecânicas antigas que retornam e principalmente de combinações com cards pré-existentes. Peguem como exemplo dois dos novos tier 1: Murloc Shaman e Quest Mage. Ambos já possuíam grande parte de seu core no jogo, mas os arquétipos não conseguiam nem fazer parte do tier 4. Contudo, o lançamento de um lacaio custo dois, [Pescador dos Esgotos] pro Xamã e [Ciclone de Mana] para o Mago, foi capaz de mudar isso, concedeu a esses decks uma possibilidade de geração de valor absurda e os tornou muito poderosos no formato.

O livre funciona assim, a cada expansão varia o número de cards com impacto, os decks costumam se preservar e apenas receberem adições de novos cards poderosos que são lançados. Como por exemplo Zihi de Rastakhan, que mesmo sendo de uma expansão cheia de cartas fracas, é uma lendária staple para o formato livre. Mas, ao mesmo tempo, podem surgir arquétipos completamente novos/arquétipos antigos que não eram viáveis ganhando bastante força no metagame. Tudo isso depende de cards específicos lançados, muitas vezes também um card lança e não vê jogo, é considerado fraco ou sem suporte e, depois de várias expansões, algum novo card aparece tornando esse deck/card fraco em algo absurdo.

Conforme as expansões forem passando o surgimento de novos arquétipos vai ser cada vez menor e o formato vai se aproximar cada vez mais de formatos eternos de outros cardgames, sendo baseado em staples (que significa o nome que cards poderosos que são obrigatórios em determinados arquétipos/classes recebem).

MdE: São poucos os eventos focados no Livre, como o Boca Livre, Oferta do Livre, graças ao Wild Open, e recentemente Oferta do Livre da Toki. Como você acha que a Blizzard poderia melhorar as maneiras de promover esse modo?

Gabriel Dias: Eu acho que tem várias possibilidades interessantes que a comunidade já sugeriu, um baú de fim de mês exclusivo para o formato com cards apenas-livre seria excelente, promoções com mais frequência, ou abaixar permanentemente o preço dos pacotes e aventuras apenas-livre na loja também poderia atrair um público pagante maior. E, com certeza, um circuito de torneios anual iria aumentar a competitividade no formato. Ainda nessas de aumentar a competitividade, uma equipe especial de balanceamento para o formato seria interessante e com certeza agora que eles abriram o precedente para buffs, uma mudança considerável em diversos cards que foram lançados ao longo dos anos e que são ou sempre foram completamente inúteis.

Outra possibilidade que eu gosto muito, porém que infelizmente acho impossível de acontecer, é eles reduzirem o custo de pó arcano para fazer um card exclusivo do livre. Se os cards fossem mais baratos de se craftar, jogadores novos poderiam montar ainda mais decks e se divertir mais no formato e jogadores antigos poderiam completar suas coleções com mais facilidade, então essa é certamente para mim a melhor mudança possível para melhorar o modo.

MdE: O que você espera pro futuro do Livre?

Gabriel Dias: Desde a divisão eu tenho grandes expectativas para o formato. Formatos eternos são sempre mais variados e interessantes, eles sempre possuem decks muito fortes e icônicos que jogam muito, e eu imagino que isso vá crescer cada vez mais no livre. A cada ano que passar eu imagino o formato se tornando cada vez mais diverso, com um número enorme de possibilidades de decks e também ainda mais divertido.

Outra coisa é a quantidade de jogadores do formato que só vem crescendo, antes do wild-open o normal era 300/400 pessoas no legend NA no máximo e hoje já chegamos a 800 por mês. E isso só tende a crescer, diferente do Magic por exemplo, onde os cards mais antigos são muito caros e tem poucas cópias a venda no mundo, o HS, por ser um cardgame online, torna  extremamente acessível para qualquer um que quer começar a montar uma coleção e jogar o formato eterno e também não sofre das variações de mercado da lei da oferta e da procura por não possuir um sistema de trocas/vendas entre os jogadores.

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Administrador da Taverna das Divas, a maior comunidade LGBT+ de Hearthstone, professor de inglês e streamer. Gosto de duquesas e de docinho.